Já faz tempo que a noite do período de férias do brasileiro é ocupada por programas pitorescos, pra não dizer verdadeiros “colírios nos olhos dos outros”. A receita é a seguinte: vamos saborear alguns milhões, para isso vamos precisar de uma enorme panela de pressão, dessas feitas sob medida, com especiarias dos tipos mais variados... Tem baiano, modelo, fazendeiro e até negro, que alias, ficou bem claro que “não entrou por cotas”, acrescenta um pouco de farra e uma pitada de intriga para dá gosto.
“O que é que é isso?”... sinceramente, não entendo porque insistimos em fazer dessa receita o prato do dia, para ser mais especifica, o prato da noite. É incrível como nossos ouvidos e o nosso olhar tem se acostumado a coisas do tipo. Lamentos a parte... vamos ao que interessa, alguém me diz, por favor, o que estão fazendo com as cotas, é muito fácil trazê-la descontextualizada e como desculpa fazer um discurso muito lindo de igualdade e que somos todos irmãos. Não, o mais incrível é quando eu, enquanto negra ou negro, nem sei do que se trata as políticas de ações afirmativas e “engrosso ainda mais o angu”, validando afirmações do tipo: “são os próprios negros que se discriminam”, “o racismo tá na cabeça dos negros”, “ eles não se esforçam , por isso não conseguem as coisas”.
É muito fácil dizer quando não se vive na pele, a cor negra, e quando não se experimenta todo legado de marginalização que submeteu a negritude à condição de escravo. O sangue vermelho que corre na veia de negros e não negros não foi e nem está sendo levada em consideração em lugar nenhum, agora acredito que até o dito cujo toma consciência do que pronunciou. Discriminação racial existe sim. Não adianta “tapar o sol com peneira”, só não ver quem não quer. Alguém me dê uma explicação mais convincente para “Sinto muito, mas o senhor não se adequou ao perfil da empresa”, que perfil é esse? “Peraê... tá pensando o quê?” Reconheço que estive um tanto desligada a esses questionamentos, agradeço muito a minha amiga-irmã que abriu meus olhos acerca do assunto, que diz respeito a nós negras-negros e incomoda mesmo, mas não devemos nos cansar nunca de bater na mesma tecla e expor o que insistem em silenciar.
Concluindo...
Depois de tanto disse me disse, só mais uma observação: “Alto falante, gente elegante... estranho, hein!”