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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA: POR QUE CELEBRAR O 20 DE NOVEMBRO?

Quero dar início a reflexão a que me proponho, agradecendo a minha amiga-irmã Veronice, que me fez se encantar pelas questões da raça negra, que me permitiu abraçar a identidade da negritude e militar em favor do nosso povo. Pois bem, ouvi ontem uma frase ingênua e inusitada da minha priminha de 4 anos, que contextualiza essa discussão muito bem. Conversando com a sua mãe sobre uma roupa que havia comprado para ela (a criança) no bairro de Castelo Branco, a menina entrou de gaiata na conversa e bradou: “Ainda bem rsrsrsrsrs que não foi no castelo preto!!!” Por que? Questionei... queria problematizar aquela afirmação, afinal criticidade combina muito bem com criança... confesso que não deu muito certo.

No entanto, esse comentário sincero e sem maledicência da minha priminha me fez pensar o seguinte: Muitas vezes sem querer, temos associado tudo que é preto, se estendendo a negritude, a algo ruim. Isso porque, “o nosso discurso é povoado pelo discurso do outro”. Quem de nós, não já pronunciou frases do tipo: “A coisa tá ficando preta”, “Deixe isso aí fora, nego vem e pega, depois não reclame...”, “Dessa forma, só vai denegrir a sua imagem...” e muitas outras, que se continuasse a descrever ocuparia todo o artigo. É incrível como os conceitos são construídos e internalizamos sem problematizá-los! Será que nunca paramos pra pensar nos detalhes? Paramos sim, quando nos interessa. Aposto que tudo que vou dizendo para alguns vai soar como coisa de preto problemático, isso mesmo no masculino...até nisso o machismo fala mais alto rsrsrsrsr. Brincadeiras à parte, é preferível que nós negros e negras continuemos silenciados, o rótulo de escravo precisa permanecer estampado na nossa identidade, querem nos reservar migalhas. Nós não aceitamos mais isso não!

Entramos na faculdade, melhor dizendo, na UNIVERSIDADE pública, o incômodo foi tanto que conseguiram tirar o projeto das cotas do Estatuto da Igualdade Racial, aprovado esse ano na câmara federal. Quando, enfim, saímos da cozinha e chegamos ao papel de protagonista na telenovela global das oito, conseguiram nos esconder atrás da deficiência, tratada como doença (grande equívoco) da personagem branca. Estamos cansados, mas a luta continua, “eles vão ter que nos engolir!” Por isso a importância de celebrar o dia 20 de novembro, fazer valer a voz de Zumbi dos Palmares, as tantas chicotadas que levou resistindo ao abandono da sua cultura, seus valores, sua história. Muita sorte a comunidade do Beirú, meus vizinhos, que estão em busca do resgate do nome do seu bairro! Por que não preservar o seu legado, estão certos os que acreditam na representatividade do líder Beirú na região. Estão certos em não querer mais Tancredo Neves. O que fez para aquele povo o presidenciável?

Vamos adiante, que esse dia seja relembrado em nossas memórias todos os dias! Fico feliz quando vejo tantos cabelos blacks, que antes eram silenciados e alisados quando não na chapinha, nos ferros quentes... Meu Deus, fico radiante...o cabelo crespo se rebelou de vez. Isso é bom, temos jovens negros e negras desconstruindo o estereótipo de beleza europo-americanizado. A maior cidade com população negra tá mostrando a sua cara, o seu biotipo, as suas raízes e identidade. Ser 100% negro é estampa de camisa, é bom que todo mundo saiba do orgulho que temos da negritude. Só assim poderemos lutar contra todo tipo de preconceito, discriminação... é sendo negros e nos assumindo como negros e negras, é claro! E pra concluir trago as palavras de Nelson Mandela, africano que tão bem nos presenteia com suas reflexões: "Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar."

Um comentário:

  1. viva a multiplicidade de raças....ai do mundo se tivesse uma raça apenas,seria chato e triste...

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